Feel entrevista a fotógrafa Maria Ribeiro

“A representatividade é essencial na construção de uma relação saudável da mulher com o próprio corpo.” Maria Ribeiro é bem mais do que uma fotógrafa.

Maria Ribeiro, fotógrafa e idealizadora do projeto @mariaribeiro_photo

Há anos, ela vem desenvolvendo um trabalho direcionado a empoderar mulheres através de ensaios naturais, artísticos e que não envolvem a manipulação das imagens.

Com o projeto “Nós, Madalenas” fotografou cem mulheres de diferentes corpos e contextos com a palavra que representa feminismo para cada uma estampada em seus corpos, o projeto se tornou um livro, workshops e palestras que rodaram o mundo. Convidamos a fotógrafa para uma conversa sobre o seu trabalho, sua história e, claro, a nossa relação com o sexo e o empoderamento.

Foto de Maria Ribeiro - Instagram mariaribeiro_photo

Como você se descobriu fotógrafa e quando se despertou para a linha de trabalho que tem hoje? Eu sou formada em audiovisual e quando eu estava estagiando, comecei a trabalhar em uma equipe de moda e publicidade e acompanhar os bastidores da criação do padrão estético que a gente consome como sociedade. Isso foi um lugar de muitos questionamentos pra mim, ver a quantidade de photoshop que é usada faz a gente idealizar corpos que não existem e esse lugar de não mostrar os corpos das mulheres da forma como eles são em realidade, como se fosse um tabu que não pudesse mostrar corpos de verdade com manchas, marcas, dobras, poros, etc.

Então a partir desses questionamentos, comecei o meu primeiro projeto que foi o “Nós, Madalenas”. Nesse projeto cada mulher escrevia com batom no corpo, uma palavra que representava o feminismo na sua trajetória. E a gente fazia um retrato em preto e branco, artístico e sem nenhuma manipulação de imagens. Esse projeto tinha duas premissas iniciais. A primeira era mostrar os corpos reais com tudo o que mulheres de verdade têm e questionar esse padrão estético que é imposto pela mídia. E a segunda era cada mulher se apropriar da sua narrativa saindo de um lugar de objeto para um lugar de protagonismo e autonomia dos seus corpos e histórias. Tanto que quando esse projeto se transformou em um livro, além das fotos, ele trouxe um relato de cada uma delas compartilhando suas trajetórias.

Você criou uma experiência única para fotografar mulheres. Como surgiu esse processo? Ele começou com o “Nós, Madalenas” em 2014. A experiência que eu tinha antes era com fotografia de moda, publicidade. Quando fotografei mulheres de uma forma tão íntima e profunda, comecei a sentir que precisava de mais ferramentas para que essa fosse uma experiência de cura e transformação e não de mais insegurança e angústia. Porque é difícil se deparar com um corpo real quando a gente só está sendo alimentada com corpos que não existem. Então, lá atrás, eu comecei a entender que precisava de outras ferramentas que eu precisei criar. Eu comecei a trazer elementos de escuta, aconchego e acolhimento para que esse processo fosse melhor para cada mulher.

Ao longo dos anos, me aprofundei em muitas áreas e fui trazendo o que eu tinha de melhor para o meu trabalho. Estudei aromaterapia, frequentei um ashram, aprendi muito sobre respiração, meditação, movimento corporal, música, processos de troca e escuta. Foram muitos anos pra criar o que hoje eu chamo de vivências fotográficas que é um processo de encontro e autoconhecimento, de cura e autocuidado. A gente faz todo um trabalho inicial para quando chegarmos nas imagens, a mulher esteja em uma conexão tão profunda consigo mesma que seja realmente transformador.

Foto de Maria Ribeiro - Instagram mariaribeiro_photo

Quais foram os seus maiores aprendizados e desafios com a fotografia feminina? Tudo o que eu aprendi, criei e concretizei para criar as vivências fotográficas foram tanto aprendizado quanto desafio porque a gente está lutando contra a corrente. Quando vamos contra o que a grande mídia produz, dissemina, contrata e quer que seja produzido, já que é interessante para o patriarcado e o capitalismo, disseminar imagens que nos trazem insegurança, falta de amor próprio, baixa auto-estima e falta de autoconfiança. O capitalismo está sempre criando mais problemas no corpo da mulher para depois nos vender solução. Eu acho que esse, na verdade, é o maior desafio.

No Instagram vemos na sua bio, a seguinte frase: “Fotografia e feminismo para emancipar mulheres!”. Por que você acredita que a fotografia é uma ferramenta poderosa no processo de libertação e reconexão da mulher com o seu corpo? A imagem é uma ferramenta de comunicação muito poderosa, ela passa uma mensagem em apenas alguns segundos só de bater o olho nela. Segundo Naomi Wolf em “O Mito da Beleza”, a estratégia do mito para nos oprimir é disseminar milhões de imagens do ideal em voga. E por que isso? Porque rapidamente associamos esse ideal ao nosso signo de beleza. Então, inconscientemente quando vemos uma imagem e ela não está dentro daquilo que nos é bombardeado todos os dias como uma definição do que é belo, a gente descarta e rejeita.

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Foto de Maria Ribeiro - Instagram mariaribeiro_photo

 

A maioria de nós teve os ideais da nossa identidade feminina formada pelo externo (imagens e estereótipos formadas pela mídia, a sociedade, etc). Para você, como podemos quebrar esse ciclo e acolher o nosso corpo de uma forma mais real e saudávelA gente precisa de imagens que façam o oposto. Que trazem cura, diversidade, inclusão e representatividade para todos os corpos poderem se conectar e se compreender como signos de beleza. Quanto mais a gente consumir dessa imagem, mais a gente desaprende, a gestão excludente, hegemônica e eurocêntrica de beleza que a gente aprendeu dentro desse sistema e mais a gente consegue abraçar e acolher outros corpos na nossa concepção do que é belo.

Precisamos compreender outros lugares enquanto signo de beleza parando de consumir o que a mídia bombardeia para gente e tendo uma postura ativa no sentido de buscar consumir o que é diverso, inclusivo e tem representatividade.

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